É engraçado. Quando eu era criança eu tinha diários (que eu não escrevia necessariamente todos os dias, mas gostava de escrever sobre o menininho que eu "gostava" ou as coisas que eu sentia.) e os escondia porque não queria que ninguém lesse. Eu carregava sempre eles na mochila pra minha mãe não encontrar em casa e defendia eles com a vida caso alguém achasse na minha bolsa. Agora com 20 anos parei pra pensar que estou escrevendo um diário de novo (que continuo não escrevendo necessariamente todos os dias) pelo mesmo motivo que eu escrevia quando criança: quero desabafar, quero escrever o que sinto pra tirar de dentro de mim. E o engraçado de tudo isso é que desta vez eu estou mantendo esse diário publico, pra quem quiser ler, pra quem esbarrar com ele por aí. O que mudou, será? Eu sinto essa necessidade de ser ouvida, essa necessidade de por pra fora e mostrar pro mundo tudo aquilo que sou. Já não vejo mais sentido em escrever coisas que não serão lidas.
Esses tempos em uma aula de ética o professor perguntou o que é felicidade e eu respondi que para mim a felicidade era "segurança", era saber que tudo está certo e que tudo vai continuar dando certo. Essa me pareceu a resposta mais sensata e menos desonesta que eu poderia dar no momento, embora a minha resposta verdadeira fosse outra, completamente diferente. Se fosse pra responder com honestidade eu teria dito que, pra mim, o conceito de felicidade não existe. Nietzsche tem um texto que me agrada muito, chamado "Sobre Verdade e Mentira no Sentido Extra-moral" que nos faz pensar se as palavras realmente expressam a verdade (Entendedores de Nietzsche, por favor me corrijam se eu estiver falando bobagem). Existem vários tons diferentes de azul, mas todos tem o nome "azul". O que faz essas cores diferentes terem exatamente o mesmo nome? E isso me fez pensar que a felicidade é diferente pra cada um: o que faz você feliz me faz feliz também? E a sensação que você chama de felicidade é igual a que eu chamo? Será que SOMOS felizes ou somente ESTAMOS felizes? Somos felizes se o tempo que passamos felizes é maior que o que passamos tristes? Isso faz algum sentido? Por que todos esses sentimentos, tão diferentes, tem o mesmo nome? Eu não disse nada disso naquela aula de ética, simplesmente porque TODO MUNDO estava dando respostas tão mais simples como: ficar com a família e com os amigos ou fazer o que ama. Eu achava esse pensamento meu tão intimo que tinha medo de por pra fora e todos acharem que sou maluca, que tenho problemas. Mas será que está certo? Será que tenho que ter medo de falar as coisas que penso, mesmo que elas soem como a maior bobagem que alguém já disse na face da terra? Eu tenho certeza que mais alguém no mundo pensa exatamente igual a mim, então porque o medo de falar?
E esse é o maior desejo que vejo nas pessoas hoje em dia: elas querem ser ouvidas! Elas fazem blogs e vlogs e GRITAM! As vezes gritam bobagens, mas são as suas bobagens! E não só querem ser ouvidas como querem encontrar pessoas que pensem como elas, que compartilhem as suas bobagens.
Gosto da ideia de não estar mais sozinha. Gosto de ter um diário público. Quem sabe um dia alguém que pensa como eu não me encontra pra batermos um papo e compartilhar nossas bobagens?
Sem comentários.
Write a comment: