Todos nós nascemos folhas em branco, telas vazias prontas para serem pintadas. Então nossos pais, com todo o amor e todas as cicatrizes dos erros que cometeram, nos ensinam seus valores, sua religião, nos explicam como não ter as mesmas marcas que eles fizeram em si mesmos. E então com o tempo você, que antes era uma folha limpa, vai ganhando cor, forma, textura... Comecei a namorar cedo, deixei que meu namorado desse umas pinceladas, me moldei ao seu gosto no jeito de agir, de se vestir, os lugares que frequentava e até as musicas que eu ouvia.
Já falei das minhas dores de amor aqui. Basicamente fiz o blog para chorar as pitangas pelo amoroso pé na bunda que ganhei, com o perdão da expressão. E agora é a hora de falar sobre a epifania que o termino me proporcionou.
Eu me ferrei na faculdade por ter me dedicado mais ao meu namoro falido do que aos estudos. Passei duas semanas desesperadoras, com vontade de desistir. "Perdi o namorado, não tenho mais emprego e vou perder a faculdade, sou um peso morto." Foi aí que do nada eu parei pra pensar e decidi: vou apagar tudo o que me pintaram até agora. Percebi que de todas as linhas do meu quadro, nenhuma eu mesma havia pintado. Eu estava eternamente focada em ser boa para os outros, em ser quem os outros queriam que eu fosse.
Vamos apagar tudo!
No outro dia eu levantei em branco! Comecei pelo mais importante no momento: correr atras do que perdi chorando por outras pessoas. Estudei como uma condenada e consegui passar em todas as finais. Percebi aí que tenho que ser o tipo de pessoa que luta pelo seu futuro profissional e intelectual: primeira pincelada.
Depois decidi que queria parecer como alguém que EU (!!) gostaria de parecer e pintei meu cabelo de vermelho (coisa que meu ex com certeza não aprovaria): segunda pincelada.
Decidi que no processo de me repintar eu deveria apagar totalmente meus valores também. Minha criação foi ótima e meus pais fizeram questão de colorir em mim valores maravilhosos e eu peço desculpa a eles, que com certeza vão ler isso, mas faz parte da vida se reconstruir e quem sabe ir atras de cometer os próprios erros. Eu abandonei tudo que acreditava em relação a religião, machismo, feminismo, politica, comportamentos, tudo! E para minha surpresa eu virei a garota que vai pra balada de vestido dançar todas as sextas. E é isso que quero ser por enquanto, nas minhas férias. Aquela garota que eu sempre julguei: mais uma pincelada. E nessa de me tornar a garota que sempre julguei eu descobri a injustiça no fato de que eu posso ser a garota que vai para a balada toda sexta tomar tequila e não ser a garota que vai para a balada e pega 10: essa não sou eu. Mas descobri também, nessa reconstrução que as garotas que querem ser assim estão no seu direito! E lá se vão mais algumas pinceladas (agora totalmente minhas!)
Hoje eu acordei feliz, renovada! Eu acordei pensando que eu estou me tornando exatamente quem eu gostaria de ser, independente do que os outros pensem. Agora, ao invés de esse ser um blog sobre as minhas desilusões amorosas, vai ser um blog sobre as novas pinceladas que vou dar em minha nova tela. Simplesmente porque agora eu estou em um relacionamento sério comigo mesma e tenho certeza de que, dessa vez, não vou me abandonar.